1 Como verificar o que de fato os alunos ainda
não aprenderam?
Diagnóstico inicial, provas, observações de atividades realizadas em sala de
aula, exercícios de sondagem, situações-problema, trabalhos em grupo, tarefas
de casa - em conjunto, esses e outros instrumentos de avaliação ajudam a
enxergar os diferentes saberes de cada um. Olhar apenas a nota das provas é
absolutamente insuficiente para averiguar o que foi aprendido. Ainda mais
quando sabemos que esse tipo de avaliação nem sempre é preparado de uma forma
que permita checar se cada conteúdo trabalhado foi de fato aprendido.
"Avaliação bem feita e válida é aquela que está relacionada aos objetivos
de ensino e traz perguntas que abordam tudo o que foi ensinado. Ela permite que
o aluno descreva o que aprendeu ou deixou de aprender", afirma Luckesi.
"Sem ter clareza sobre as dificuldades de cada um, o professor pensa que
terá de trabalhar com muito mais conteúdos do que o necessário e acaba
desistindo da recuperação."
2 Como analisar os resultados das estratégias de avaliação?
Em relação especificamente às provas, uma boa dica é ler de uma vez a resposta
de todos a uma mesma questão. É importante fazer anotações sobre as
dificuldades encontradas: quem errou, por quê, como, as ideias apresentadas
sobre o assunto, quais os equívocos mais comuns etc. Tabular esses dados ajuda
a definir em que investir mais força, o que retomar coletivamente e o que
trabalhar em pequenos grupos (leia mais no quadro abaixo). Ao analisar
cadernos, portfólios e trabalhos de casa, você tem um retrato dos diferentes
momentos de avanço da turma - o que é fundamental para enxergar exatamente onde
está a dificuldade de cada um em compreender o conteúdo e para eleger as
estratégias que ajudarão todos a superar os problemas.
Nas situações do dia a dia na sala de aula e nas tarefas de casa, é possível
checar se problemas detectados no desempenho em provas se confirmam. "É
comum as crianças não saberem utilizar nos testes o conhecimento que têm",
ressalta Rosa Maria Antunes de Barros, coordenadora pedagógica da Escola
Castanheiras, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, e autora de um estudo
sobre grupos de apoio em escolas. Se numa atividade um aluno soube fazer algo e
nas outras não, é indicativo de que ele domina parte do conteúdo, mas não está
seguro disso. É imprescindível falar com ele, escutar quais são suas hipóteses,
verificar até onde chegou e quanto avançou desde a última atividade.
3 Concluí que meus alunos têm dificuldades diferentes. Como lido com isso?
"Fazer agrupamentos é o grande pulo do gato para recuperar as
aprendizagens de todos", acredita Rosa Maria. Tendo um diagnóstico bem
feito, que aponte exatamente os problemas de cada um em relação aos conteúdos
trabalhados em sala até o momento, é possível dividir a classe. Um grupo será
constituído pelos que não apresentam problemas e precisam continuar avançando.
Os demais devem ser divididos em no máximo três agrupamentos, com dificuldades
comuns entre os integrantes. Afinal, em determinado tema abordado em aula, não
há tantas coisas diferentes que possam gerar dúvidas entre a garotada. Porém,
se você detectou que um problema de aprendizagem é comum a grande parte da
turma, cabe uma reflexão: será que a metodologia e a estratégia utilizadas
foram coerentes com o objetivo pedagógico? Em seguida, retome o conteúdo com
urgência e sobre novas bases. Lembre-se de que avaliar também é checar a
qualidade e a eficácia do próprio trabalho.
4 Quais os critérios mais indicados para formar grupos em sala de aula?
São duas as variáveis que determinam os agrupamentos: as necessidades de
aprendizagem e o objetivo da própria atividade. Além disso, é importante
considerar as características pessoais e os vínculos afetivos da turma.
Dependendo da tarefa, a garotada fica livre para escolher os parceiros.
"Em qualquer dessas situações, é importante deixar claro para todos no que
se baseou a organização e os seus objetivos com ela. Eles têm de estar seguros
e saber o que é esperado deles", ressalta Maria Celina Melchior.
Os erros mais comuns
- Determinar quem será reprovado antes do fim do ano letivo. Os alunos com mais
dificuldade não devem ser abandonados. Ao contrário, eles são os que mais
precisam de atenção.
- Separar os que têm dificuldade em uma sala para os "fracos". Essa
estratégia estigmatiza quem está de recuperação e não ajuda no processo de
aprendizagem.
- Deixar a recuperação para a última semana do ano letivo. Se para a criança
está sendo árduo avançar, uma revisão rápida do programa do ano não funcionará.
- Repetir na recuperação as estratégias já usadas. É preciso proporcionar
outras formas de ensino para que todos aprendam o conteúdo.
5 De que forma posso organizar o trabalho dentro dos agrupamentos?
Em cada um deles, o estudo pode se dar em subgrupos, duplas ou individualmente,
de acordo com as necessidades de aprendizagem e os objetivos de ensino. Em agrupamentos
maiores, são ricas as discussões de estratégias para resolver uma questão ou a
reflexão sobre o tema estudado. Nas duplas, é válido colocar alguém que tenha
maior dificuldade para realizar uma atividade com um colega que entendeu
melhor. As dúvidas do primeiro podem ser fundamentais para que o outro avance
no conteúdo. Além disso, quem está enfrentando problemas aprende com a ajuda do
colega. "Isso, no entanto, não deve ocorrer sempre. É preciso lembrar que
quem sabe também precisa continuar aprendendo", explica Maria Celina. Já
as atividades individuais ajudam o aluno a se sentir seguro sobre as
aprendizagens, já que tem de colocar em jogo todo o conhecimento adquirido. Não
esqueça: na maior parte do tempo, todos estarão juntos e vão seguir aprendendo
ou revendo os mesmos conteúdos.
6 Como dar conta das diferentes demandas dos grupos sendo uma pessoa só?
O segredo é planejar em detalhes cada aula de recuperação, prevendo tarefas
para todas as equipes (leia mais no quadro abaixo). O ideal é propor sequências
didáticas bem ajustadas às necessidades de aprendizagem de cada uma delas. Na
hora de determinar o que fazer e quando, considere os critérios didáticos a
seguir:
Atividades Trabalhar com foco nas necessidades dos alunos não significa a toda
aula propor algo diferente para cada um. É claro que no reforço não adianta
repetir o que já foi realizado pela turma, mas propondo diferentes atividades
você contempla mais alunos. Para os que já compreenderam a matéria, apresente
tarefas com complexidade um pouco maior. À medida que aqueles que estão com
dificuldades caminham, é possível propor a eles o que os avançados fizeram nas
aulas anteriores. Construa um banco de atividades, se possível, com colegas da
escola. Guarde os arquivos de propostas que surtiram bom efeito em aula para
sempre adaptá-las e melhorá-las.
Recursos Invista em diversos materiais (vídeos, músicas, revistas, jornais,
sites, jogos, mapas, atlas etc.) e estratégias (aulas expositivas, visitas a
locais históricos etc.) como ferramentas de ensino. Mesmo em tarefas coletivas,
é possível escolher recursos diferentes para cada grupo, sempre pensando no que
melhor se encaixa em seu objetivo e nas necessidades de cada um.
Tempo Quem acompanha a turma de perto identifica os que precisam de um período
maior para entender um conteúdo e já considera isso no planejamento. Às vezes,
a criança tem de ficar mais tempo num mesmo ponto e contar com uma atenção
redobrada, enquanto o restante realiza mais de uma atividade. O segredo é
destacar essa flexibilização de tempo no planejamento e garantir que nas aulas
coletivas ela siga avançando.
7 Como retomar conteúdos não aprendidos sem deixar de cumprir o programa?
Distribuindo algumas aulas de reforço ao longo da semana de forma que você
possa propor desafios para os que não têm dificuldades e também atividades para
a turma completa. Reserve cerca de uma hora por dia ou um período de sua carga
horária para dar atenção aos agrupamentos. Determinar os objetivos e as metas
para cada um deles é fundamental para não desperdiçar tempo. No restante do seu
horário, siga com todos os alunos o programa normal.
8 Como ajudar cada um de acordo com suas necessidades de aprendizagem?
Uma alternativa é reorganizar a sala, colocando os mais adiantados no fundo, os
que estão com dúvidas pontuais no centro e os que apresentam mais problemas
próximo a você. Assim, é possível passar entre as carteiras, observar todos
atentamente e intervir com afinco no trabalho dos que mais precisam. Verifique
como eles fizeram a atividade, peça explicações sobre a resolução, proponha a
discussão entre pares, mostre o que precisam rever etc. "Dessa forma,
assim que as dúvidas aparecem, elas são sanadas. Uma pequena intervenção, em
certos momentos, é essencial para a compreensão do conteúdo", recomenda
Maria Celina.
9 Mandar tarefa de casa como reforço é uma boa estratégia?
Como atividade única e isolada, não. Mas, como complemento do trabalho
realizado em classe, sim, funciona e muito bem. Nesse caso, a ideia é
sistematizar um conhecimento adquirido. "É preciso selecionar desafios que
o aluno tenha autonomia para enfrentar. Ele tem de ter visto o conteúdo em
sala, tirado todas as dúvidas e feito exercícios similares com o apoio do
professor. A tarefa será apenas para sistematizar ou refletir sobre o que
aprendeu", explica Rosa Maria. De nada adianta preparar atividades para
fazer em casa sem orientação. Dificilmente, ele sozinho conseguirá avançar.
10 Qual o papel do titular da turma quando o reforço é no contraturno?
Em escolas que oferecem horários especiais para a recuperação, o papel de quem
está diariamente com a turma é fornecer as informações possíveis ao colega que
ficará responsável pelas aulas extras, providenciar as atividades que serão
propostas e acompanhar o avanço da garotada. Afinal, é ele quem conhece as
crianças e sabe quais conteúdos elas precisam rever, as estratégias de ensino
já usadas e que se mostraram insuficientes. "Esse tipo de organização não
muda em nada a função do regente de sala", ressalta Maria Celina. Há
apenas uma exceção a essa regra: crianças não alfabéticas que já estão em
séries avançadas do Ensino Fundamental demandam uma ajuda mais efetiva por
parte do educador de reforço. Além de essa não ser a área do especialista, a
tarefa exige mais tempo e dedicação do que ele tem disponível.
11 Como saber se a recuperação funcionou e todos aprenderam?
Com novas avaliações e análises dos resultados (leia mais no quadro abaixo).
"É preciso acompanhar o avanço de cada um de perto e registrar todos os
passos", recomenda Luckesi. Analise se os estudantes superaram obstáculos
e sanaram as dúvidas, se participam das discussões com bons argumentos e se têm
segurança e destreza para realizar os exercícios. Para se certificar das aprendizagens,
você pode apresentar questões semelhantes às das avaliações anteriores e pedir
que eles resolvam individualmente. Retome o diagnóstico inicial e as anotações
feitas antes da recuperação e compare o desempenho de todos. Aqueles que
superaram as dificuldades devem ser transferidos para o grupo dos que precisam
de novos desafios. Com aqueles que ainda não superaram todos os problemas
detectados, o trabalho continua, assim como a avaliação da aprendizagem de
novos conteúdos trabalhados, que é contínua.