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sábado, 2 de junho de 2012

A aliança

Postado Por educaipo Postado As 16:04 Com Sem Comentarios

Esta é uma história exemplar, só não esta muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-se longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.
Ele estava voltando para casa como fazia, como fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar alguma surpresa da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do deu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança que estava no asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro.Onde desapareceu diante de seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pode, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo as perguntas da mulher antes de ela fazê-las.
-Você não sabe o que me aconteceu!
-O que?
-Uma coisa incrível.
-O que?
-Contando ninguém acredita.
-Conta!
-Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?
-Não.
-Olhe.
E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.
-O que aconteceu?
E ele contaria.Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto.O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.
-Que coisa - diria a mulher, calmamente.
-Não é difícil de acreditar?
-Não. É perfeitamente passível.
-Pois é. Eu...
-SEU CRETINO!
-Meu bem...
-Esta me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem cara-de-pau de inventar uma história que só um imbecil acreditaria.
-Mas, meu bem...
-Eu sei onde esta essa aliança. Perdida no tapete felpudo de um motel. Dentro do ralo de uma banheira redonda. Seu sem-vergonha!
E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:
-Que fim levou sua aliança? E ele disse:
-Tirei pra namorar. Para fazer um programa. E perdi num motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
-O mais importante é que você não mentiu pra mim.
E foi tratar do jantar.

Luís Fernando Veríssimo.


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